sexta-feira, agosto 24, 2007

Feiras livres


Que saudade absurda tenho da feira que acontecia todo o sábado, duas ruas acima da que eu morava. Será que alguém já teve saudade disso? Pois eu tenho. Minha relação com feira é profunda desde que eu era pequena.


Quando criança costumava passear com meu avô entre as barracas de frutas, verduras, legumes e até as de peixes e carnes. Confesso que das últimas eu gostava menos, devido ao odor desagradável. Mas era uma aventura percorrer aquele longo corredor cheio de cores e aromas.


Meu avô conhecia todo mundo: do verdureiro à senhorinha que fazia compras numa determinada banca. Morador da Mooca desde nascença, filho de italianos só podia dar nisso. Falava com todos, fazia piada, ria e eu ganhava beliscões na bochecha. Não que esta parte fosse divertida, mas era encantador ver aquele monte de gente maior que eu divertindo-se no meio das bancas.


O passeio terminava na banca de pastel dos japoneses. Meu avô pedia um de carne e eu o de palmito, o meu preferido. É claro que o caldo de cana também não podia faltar. E foi assim que aprendi a escolher tomate, alface, maçã, pedir desculpa ao pisar no pé de alguém, cumprimentar os conhecidos, colocar a fofoca em dia, pechinchar, aproveitar a promoção para a criança ou a moça bonita, apreciar cor, aroma, formatos e rir, rir bastante.


A minha grata surpresa ao me casar foi descobrir que uma deliciosa feira passava duas ruas acima daquela que escolhemos para morar. Era uma feira enorme e cheia de produtos de qualidade. Todo o sábado eu e meu marido íamos fazer as compras lá. Tudo fresquinho. Nunca comi tão bem verduras, legumes e frutas quanto nos anos em que ali morei. Eu simplesmente me realizava indo à feira.


Quando decidimos transformar a vida em algo mais simples e fizemos as malas e partimos da grande metrópole não pensei que eu teria que me separar das feiras. Pois é, o golpe foi duro. Por estas bandas feira se resume a uma barraca com alface, cebola, tomate e maçã. E confesso: as cores e os aromas nem são tão fáceis de se perceber. Parece que feira livre é coisa só de paulistano. Que pena!


Hoje, faço estas compras no supermercado que, embora se esforce, não consegue chegar aos pés das feiras da minha infância, na Mooca, e nem do meu início de casada, na Aclimação.

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