sexta-feira, agosto 24, 2007

Praia nas quatro estações do ano


Eu gostaria de entender o porquê das pessoas cismarem de que praia só é boa no calor. Não sei se pela minha facilidade em amar a praia em qualquer época do ano eu tenho uma enorme dificuldade em compreender o inverso.


Desde menina estou acostumada a freqüentar o mesmo lugar para o qual me mudei, há quase dois anos, nos meses de calor e frio. E olha que aqui faz frio de verdade no inverno. E chove, chove muito.


Mas eu aprendi a beleza disso tudo. Cada qual ao seu modo.

No calor a gente se estatela no sol, se lambuza de protetor, exibe a última moda em biquíni, experimenta todas as caipirinhas e batidas, se embebeda de água de coco e empanturra-se de açaí na tigela e sorvete.


Quando o frio bate na porta é hora de pegar aquela manta que espera o ano inteiro para ir à praia. Isso mesmo. A gente se enrola e fica olhando o luar, ao pé de uma fogueira, com a caneca de vinho quente na mão (ok, essa parte só foi possível ser incluídas depois que fizemos alguns aniversários).


E quando a chuva cai é hora de se embrulhar nas cobertas, convidar os amigos para assistir a um filme, jogar algum jogo bizarro inventado por nós e sentir o cheiro da terra molhada e das plantas perfumadas ao som da conversa da galera.


Isso tudo se fazia lá atrás, quando era menina e passava as férias por estas bandas em janeiro, julho e nos feriados prolongados. Os amigos todos cumpriam o mesmo ritual. Hoje, todos cresceram, cada qual tem sua responsabilidade, mas todos – sem exceção – ainda amam e freqüentam o mesmo lugar de outrora, cada qual no seu tempo disponível.


Eu, que era a pessoa mais reclusa daquela época (sim, poucos gostavam de mim e eu gostava de pouco – só dos melhores, claro! rs), confesso, via tudo de longe e imaginava fazer tudo isso com a turma. Mas nunca fui infeliz por isso. Pelo contrário, essa era minha marca registrada e assim fiz amizades de verdade, que guardo no peito até hoje.


Aliás, a praia já não tem sido a mesma desde setembro do ano passado, quando uma amiga querida e fundamental deixou nosso paraíso para trabalhar do outro lado do Atlântico. Os dias de sol, frio e chuva têm sido tristes como nunca foram.


O que aquece o coração é que ela volta. Na época das flores, daqui a duas primaveras.

P.S.: Após o fechamento desta edição eu soube que ela não volta na época das flores, mas o final ficou tão poético que não quis mudar.


P.P.S: Para os que querem saber, a Luana está trilhando um caminho profissional que ela merece, cheio de sucesso e conquistas e por isso eu apóio toda e qualquer decisão da minha amiga. A saudade é terrível, mas a gente entende.


P.P.P.S.: Mas ela não vai ficar sem dar o ar da graça muito tempo. Só que eu não vou estragar a surpresa da data, né?!

Ligação inexplicável


Minha mãe a conhece desde que tinha 4 anos de idade. Eu a conheço desde que nasci. Foi ela quem escolheu meu nome: Luciana, porque significa “luz do mundo”. Ela esteve ao meu lado em todos os momentos, e continua a ser assim, mesmo depois de eu ter apagado quase 27 velas e ter casado.


E é isso que faz nossa ligação ser tão inexplicável.


Esta pessoa tão maravilhosa é a minha segunda mãe: a minha madrinha. Aliás, costumo dizer aos meus pais que eles ainda me causarão um problema por conta da escolha dos meus padrinhos. Sim, porque se um dia eu decidir ter filhos, terei uma dor de cabeça imensa para escolher quem cuidará dos meus filhos na minha ausência (esta é a função primeira dos padrinhos), afinal, vou querer, no mínimo, pessoas iguais aos meus padrinhos. E posso garantir que eles foram e são MA-RA-VI-LHO-SOS.


Enfim, enquanto este dia não chega, vou contar sobre ela. Rosa é uma mulher de fibra, guerreira. Quem a vê, num primeiro olhar, só percebe sua elegância e classe e nem desconfia que por trás daquele sorriso delicioso existe uma leoa.


Sofremos juntas a perda de meu padrinho. Cada uma da sua forma e com sua dor, mas juntas. Ela enfrentou desafios imensos para vencer sozinha sem aquele que sempre foi seu braço direito. E venceu. Com classe, elegância e aquele sorriso.


E eu também venci todas as más línguas que disseram que ela me abandonaria. Afinal, ele era tio da minha mãe (irmão do meu avô), ela era só a esposa. Por que, então, haveria de se importar com a menina – eu – que nem tinha o seu sangue?

Sangue. Quem precisa disso quando existe amor? Nós não precisamos!


Já faz 15 anos que eles nos deixou. E durante todo o este tempo sempre estivemos juntas, talvez até mais unidas, pois agora não sou mais criança e, além de mãe, ela pode ser minha amiga.


E é assim que seguimos: uma saudade apertada quando estamos distantes, uma alegria imensa o tempo que passamos juntas, um abraço apertado e uma vontade infinita de não nos desgrudar. E isso é tão bom!


Na noite de sábado para domingo sonhei com ela. Acordei com a sensação do abraço que nos demos no sonho. E foi tão bom...


Tentei falar com ela, mas não a achei em casa. Esta noite voltei a sonhar. E ela estava tão feliz. Pude acordar com o som da sua risada e a sensação real daquela felicidade. Telefonei novamente. Desta vez a encontrei. E não é que realmente estava feliz? Muito feliz!


Pois é. Esta é a nossa ligação inexplicável. A deliciosa ligação de uma mãe e uma filha, que embora não estejam ligadas pelo sangue, estão ligadas por algo maior: a alma!


Amo você, madrinha.

Eu torci contra!

Minhas amigas acharão que surtei. Pedirão imediatamente minha interdição. Tudo isso por causa do que agora irei declarar: eu torci contra o conjunto brasileiro de G.R, no Pan 2007. Pronto, falei!


Os mais distantes vão me criticar. Dirão que sou bairrista, corporativista, preconceituosa ou seja lá o que se parecer com isso. Tudo isso porque direi o motivo da torcida contra: a saída obrigada da antiga técnica da seleção brasileira, Bárbara Laffranchi.


O que mais me doeu o coração, ao torcer contra, foi o fato de que, se minha torcida se concretizasse, quem sofreria mais seriam as meninas, que amam tanto o que fazem e se dedicam todos os dias, horas a fio ao treino.


Mas tudo isso é política. E na política, sofre os patamares mais baixos na hierarquia. Neste caso, se a derrota fosse possível, atingiria com força maior as atletas, que nada têm a ver com a podridão da política.


Bárbara Laffranchi transformou a G.R brasileira no que é hoje, com muita luta, muita dedicação, muita sincronia com suas meninas, muito amor e imenso apoio familiar. Isso mesmo. Se a G.R brasileira, o conjunto mais propriamente dito, tem todo este espaço e glória hoje é porque Bárbara e sua família suaram muito a camisa e investiram muito dinheiro. Sim, porque se dependesse da Confederação seria melhor mudar de assunto.


No entanto, a política falou mais alto. E não adiantou todo o movimento, político até, contra. A Confederação manteve a decisão e colocou quem mesmo para treinar a seleção? Ah, não conheço direito.


Eu queria tanto que elas perdessem e isso pudesse mostrar o erro que foi cometido. Mas não perderam. Sabe por quê? Porque as meninas foram e fizeram aquilo que haviam se proposto: executaram perfeitamente a série. Só!


Espanto? Eu explico: a série era mediana, mas os outros países competidores conseguiram ter séries piores e com erros de execução. Nem Cuba, o grande fantasma, tinha uma boa coreografia. Canadá, por sua vez, eu achei a série mil vezes melhor elaborada que a do Brasil, inclusive música e roupa. Mas as meninas cometeram erros.


Agora, também não podemos deixar de lado o fato de que estávamos em casa. Como a “seleção bicampeã Pan-americana” perderia em casa? E não perdeu. E arrisco: não perderia de jeito algum!


Mas esta seleção não é tricampeã. É apenas campeã; uma medíocre campeã, que, infelizmente, será esmagada nos mundiais e Olimpíadas da vida. E o conjunto brasileiro voltará ao limbo do qual Bárbara Laffranchi, junto com suas competentíssimas meninas, o tirou com tanto esforço.


Por enquanto, parabenizo o esforço das meninas, que trabalham duramente todos os dias e não têm nada a ver com política. Essa medalha é só delas e de mais ninguém!


P.S.: Diferente do que muitos podem pensar, não sou contra renovação. Sou contra renovação forçada por egos e política mal feita. Sou contra renovação que troca uma equipe por outra com nível muito inferior. Do jeito que estamos não há chance em competições maiores, com maior número de rivais e com nível técnico altíssimo.


P.P.S.: Cá entre nós para quem já se apresentou ao som de Aquarela do Brasil, Asa Branca e outras tantas músicas mais inteligentes, com mais raiz, em que som, coreografia e roupa estão em perfeita sincronia, acabar com um misto de 3 músicas de Daniela Mercuri, porque a técnica a quer homenagear dizendo que ela é a cara da mulher brasileira...Preciso dizer mais?????

Nem tudo é simples assim...


Simplificar a vida é uma das coisas que eu sempre quis. Desistir daquele lance de complicar tudo, encanar com tudo, imaginar o que os outros vão pensar ou dizer. Ser leve era meu objetivo. Mas a vida tem algumas características pesadas das quais ainda não consegui me livrar.


Admiro as pessoas que encaram a morte como algo natural e necessário. Que são leves quando alguém querido se vai. Eu ainda não consigo. Até outro dia eu só havia perdido um alguém que realmente fez um buraco no meu peito: meu padrinho. E daquele dia em diante eu peço para não passar mais por isso, porque a dor é insana.


Mas a vida não quis assim. Muitos, ao lerem, me chamarão de louca, porém, só quem tem um bichinho de estimação e o ama profundamente vai me entender.


Um ano antes de me casar, estava a caminho do trabalho quando encontrei três gatinhos, com menos de um mês de vida, abandonados em uma praça. Era feriado, chovia e fazia frio. Resisti e segui meu caminho. Mas a cena apertou meu coração o dia todo. Quando voltei do trabalho os bichinhos ainda estavam ali e pior: com a saída de crianças da escola, estavam sendo maltratados.


Corri em casa e com minha grande cúmplice, minha irmã, resgatei os pobrezinhos. Levamos para casa, demos banho, tiramos as pulgas uma a uma com pente fino e medicamos com Vitamina C (sempre orientadas pela querida médica veterinária Mônica Cuono).


Foi assim que Nina entrou na minha vida.


A idéia era eu levar os três gatos para minha futura casa, após o casamento. No entanto, durante a passagem do tempo, doei os outros dois gatinhos.

E só Nina permaneceu.


Nossa amizade era enorme. Ela me entendia e eu a entendia. Quando estava triste e sozinha era com ela que conversava, e quando estava alegre também.


Nina era uma guerreira. Pulou duas vezes da janela do meu apartamento - 6º andar – e não se fez nenhum arranhão. Na verdade, acho que ela era uma exímia praticante de queda livre!


Um ano antes de nos mudarmos para a praia ela passou a ter sérias convulsões. O exame indicou PIF Felina (peritonite). Essa doença, que atinge humanos e animais, só é fatal e terrível nos gatos. Quando recebi o diagnóstico e a previsão de menos do que um ano de vida, meu mundo caiu.


Se eu amava Nina, passei a amar mais; se eu cuidava bem dela, passei a cuidar mais; se eu conversava ou a acariciava, passei a fazer muito mais e a pedir para o Universo, para a Natureza, os Deuses e as Deusas que não a deixassem sofrer. E eles não deixaram.


Viemos para a praia e ela nunca mais convulsionou. Entrou no cio e engravidou. No entanto, pouco antes da data de nascerem os filhotes morreram. Nina entrou às pressas em cirurgia, retirou os filhotes e foi castrada. O resultado: o médico não viu nenhum sinal de PIF. Eu estava feliz.


Mas Nina foi operada logo na semana seguinte, pois alguns pontos internos se soltaram. E bravamente ela resistiu, sem nenhum arranhão. Isso aconteceu em outubro, no meu aniversário.


Nina sempre foi guerreira.


Nestas estripulias felinas acho que suas sete vidas se foram e, de forma ridícula, Nina também se foi. Atropelada, Nina deixou meu mundo e foi ser mais feliz. Eu fiquei e mais uma vez o rombo no peito se abriu. Jamais imaginei que isso pudesse acontecer.


Tenho mais nove gatos, mas o espaço da Nina era só dela. Só ela tomava café ao meu lado todas as manhãs, só ela não gostava de tomar leite com a turma, só ela me atrapalhava na hora de guardar as roupas passadas ao tentar entrar no guarda-roupa e gavetas, só ela gostava de deitar no pé da minha cama. Só ela!


É difícil entrar em casa e sentir sua ausência. É muito difícil.


E isso me faz perceber que nem tudo é simples assim...

Opa, tem alguma coisa diferente aí...

De repente reparei que estou mudando. Sim, posso usar o gerúndio, visto que estou no meio do processo. Até entendo que, depois da decisão de sair da cidade da garoa e de sua concretização, muita coisa seria diferente. Mas o lance é interno.


Sabe como reparei da minha mudança? Toda vez que eu escrevia a alguém e assinava com meu apelido – Lu – eu o acentuava. Eu estou careca de saber que oxítona termidada em U não leva acento, mas eu fazia questão de colocar o senhor agudo lá. Achava que era charme, exclusividade minha. Até minha assinatura oficial era assim.


Porém, de repente, percebi que eu não estava mais acentuando o diacho do apelido. O porque não me pergunte. Sei que bons psicólogos diriam que isto é sinal de mudança. Pode ser de conceitos, de filosofia de vida, de objetivos, de crenças, enfim, de muitas coisas. E eu acredito nestes carinhas que estudam cinco anos a fio.


Quando eu descobrir o que realmente está mudando em mim prometo que conto. Tenho certeza de que será para melhor.


Agora, sou Lu, simples assim!

Feiras livres


Que saudade absurda tenho da feira que acontecia todo o sábado, duas ruas acima da que eu morava. Será que alguém já teve saudade disso? Pois eu tenho. Minha relação com feira é profunda desde que eu era pequena.


Quando criança costumava passear com meu avô entre as barracas de frutas, verduras, legumes e até as de peixes e carnes. Confesso que das últimas eu gostava menos, devido ao odor desagradável. Mas era uma aventura percorrer aquele longo corredor cheio de cores e aromas.


Meu avô conhecia todo mundo: do verdureiro à senhorinha que fazia compras numa determinada banca. Morador da Mooca desde nascença, filho de italianos só podia dar nisso. Falava com todos, fazia piada, ria e eu ganhava beliscões na bochecha. Não que esta parte fosse divertida, mas era encantador ver aquele monte de gente maior que eu divertindo-se no meio das bancas.


O passeio terminava na banca de pastel dos japoneses. Meu avô pedia um de carne e eu o de palmito, o meu preferido. É claro que o caldo de cana também não podia faltar. E foi assim que aprendi a escolher tomate, alface, maçã, pedir desculpa ao pisar no pé de alguém, cumprimentar os conhecidos, colocar a fofoca em dia, pechinchar, aproveitar a promoção para a criança ou a moça bonita, apreciar cor, aroma, formatos e rir, rir bastante.


A minha grata surpresa ao me casar foi descobrir que uma deliciosa feira passava duas ruas acima daquela que escolhemos para morar. Era uma feira enorme e cheia de produtos de qualidade. Todo o sábado eu e meu marido íamos fazer as compras lá. Tudo fresquinho. Nunca comi tão bem verduras, legumes e frutas quanto nos anos em que ali morei. Eu simplesmente me realizava indo à feira.


Quando decidimos transformar a vida em algo mais simples e fizemos as malas e partimos da grande metrópole não pensei que eu teria que me separar das feiras. Pois é, o golpe foi duro. Por estas bandas feira se resume a uma barraca com alface, cebola, tomate e maçã. E confesso: as cores e os aromas nem são tão fáceis de se perceber. Parece que feira livre é coisa só de paulistano. Que pena!


Hoje, faço estas compras no supermercado que, embora se esforce, não consegue chegar aos pés das feiras da minha infância, na Mooca, e nem do meu início de casada, na Aclimação.

Gatos: como é fácil parir!


Quem me conhece sabe que sou loucamente apaixonada por felinos. O começo desta longa história de amor eu conto outra hora. Vale, no entanto, saber que minha casa abriga oito destes charmosos companheiros. A trupe, de idades variadas, tamanhos e cores diversas, conta com três machos e cinco fêmeas. Em comum só o fato de serem todos sem raça definida.


Sou completamente a favor da castração por inúmeros motivos, embora minha primeira experiência com ela tenha sido traumática. Mas duas de minhas gatas não são castradas, confesso que por pura distração. Também por pura distração não percebi o cio de uma das minhas pequenas e só me dei conta do ocorrido quando ela não voltou para casa, principalmente na hora do jantar.


Dolores apareceu em casa no dia primeiro de janeiro de 2006. Um grupo de adolescentes sabidos encontrou a filhotinha e foi levá-la justamente na minha porta cheia de gatos, para ver se eu não queria adotar mais um. Naquela época, quatro felinos apenas faziam parte da família e eu estava desolada porque haviam surrupiado meu lindo gato preto. A hora não poderia ser melhor para os adolescentes. E assim Dolores tornou-se a sétima integrante da família, afinal, eu e meu marido também moramos na casa, embora muita gente duvide.


Gatinha pequena e magricela ela se transformou, mas sua voracidade pela comida nada representa seu porte físico. De todos os gatos, ela é a única que come qualquer coisa além da ração. Pode sugerir o que você quiser, tenho certeza que Dolores engoliria em segundos. Esperta, sabe a hora certinha do café-da-manhã, do almoço e do jantar, até aos finais de semana, em que nossos horários mudam completamente. E sempre está a postos, ao nosso lado, esperando o que ela vai ganhar.


Aquele dia ela não apareceu. Nem no outro. No meu desespero convoquei meio mundo para me ajudar a encontrá-la. Sorte é que era feriado e a rua estava cheia de gente, sim, porque em dias normais minha rua conta com quatro vizinhos.


Dolores foi achada em cima de um telhado, toda formosa, sendo disputada por dois gatões. Não podia estar melhor, mas prevendo o que viria a seguir tratei de tirá-la de lá. Ficou trancada no quarto até os “ânimos” abaixarem. Passou, mas ela já tinha feito a festa.


O resultado foi um parto tranqüilo, numa terça-feira de março, às 5hs30 da manhã. Dolores pariu nada menos que seis filhotes com uma sutileza e fresco inacreditáveis. Em sua caixa-maternidade ela se abrigou e soltou um miado diferente, depois ficou quieta. Dali um tempo outro miado e silêncio. Não agüentei e fui ver o que acontecia: já eram dois nascidos. Comecei a observar e percebi que ela miava quando o gatinho começava a sair e parava. Nascido ela limpava seu filho todinho, sem deixar vestígio de placenta ou qualquer coisa melequenta. E assim, a cada vinte minutos, nasceram os seis.


Filhotes espertos já sabiam onde e como mamar. A mãe sabida no mesmo dia já saiu para dar suas voltinhas, comer e ter sua rotina normal. Sabia exatamente quando tinha de voltar à caixa para alimentar seus pequenos, que nunca reclamavam. Hoje, com mais de um mês, a garota sabe fazer suas necessidades sozinha, na caixa de areia. Comer? A mãe entra mia, deita e todos já sabem o que significa.


Diga-me: parir assim não é fácil? Educar assim não é fácil? E sustentar, então? Se eu fosse uma gata viveria tendo filhos....

O barulho das lagartas



Eu estava no escritório, compenetrada, em meio às minhas anotações para uma matéria que deveria ser concluída, quando meu marido chega e diz:

- Você já ouviu o barulho que as lagartas fazem quando comem?

- Não – respondi com a cabeça enfurnada nos papéis.

- Então, vem ouvir!


Olhei para ele com aquela cara e disse carinhosamente:

- Amor, eu estou um pouquinho ocupada.


Mas, não teve jeito. Sorrindo, ele puxou a cadeira, pegou no meu braço e disse:

- Estas oportunidades são únicas. Eu, em 32 anos de vida, nunca tinha ouvido.


Então, passamos pela sala, entramos na varanda e fomos, de braços dados, andar pela rua com lanterna em punho, numa noite fria e eu cheia de coisas a terminar.


De repente ele pára próximo a um coqueiro. Como não temos praticamente nenhum vizinho, naquele ponto éramos só nós dois e nossos gatos, que nos seguiram.


O silêncio imperava e era possível ouvir um barulho sutil, porém, não tão baixo. Na verdade, parecia o som do roçar de uma folha na outra, por causa da brisa. Por isso, falei:

- Amor, esse barulho é do vento nas folhas!


Sem titubear, ele acende a lanterna, mira nas folhagens e diz:

- Tem certeza?


Qual não é o meu espanto ao ver inúmeras lagartas fazerem o banquete! Fiquei surpresa e maravilhada. Afinal, mesmo tendo escolhido morar no meio do mato há oito meses (escrevi este texto em um dos ensaios para o blog, no dia 03/07/2006), ainda não consegui apreciar, entender e escutar a natureza em que me inseri. Ainda carrego as loucuras do cotidiano estressado da vida na cidade grande.


Mas, meu querido companheiro parece já ter colocado seu coração e sua mente em sintonia com os seres da terra, da água e do ar.


A curta caminhada de volta para casa mereceu uma história, dos tempos de criança, quando ele queimou o braço em uma taturana. Quando me entregou de volta à minha cadeira e aos meus afazeres a única coisa que eu pude fazer foi agradecer por aquele momento mágico.


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Agradecimentos

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Quero agradecer, de coração, a todos que prestigiram o começo de uma nova empreitada. Obrigada pelo apoio, pelo carinho e pelos comentários. Estão convidados a voltarem sempre e a trazerem os amigos. Um beijo para todos!

quinta-feira, agosto 23, 2007

E tudo começa aqui!

Há tempo que acalento o desejo de ter um blog. Já fiz algumas tentativas exclusivamente privadas, mas acabava por não levar o projeto adiante. Motivo: medo da exposição, do roubo de meus pensamentos, da opinião das pessoas, enfim, falta de coragem. Mas agora tudo mudou. E munida de incentivo vou colocar meus loucos devaneios à disposição de quem tiver paciência de lê-los.

No entanto, acredito ser necessária uma breve apresentação. Pois bem. Sou Luciana Maria, sim, porque o Luciana não existiria sem o Maria e vice e versa e porque a força de um completa a energia do outro. Nascida na primavera, sob as influências das dúvidas de Libra e os devaneios de Aquário e amparada pela Lua, me tornei o que sou: uma jovem e apaixonada jornalista, que se embrenha nas letras - até nas horas vagas - e sonha escrever uma grande história.

Inquieta por conhecer um mundo além daquele cinza da grande cidade, parti. Fiz as malas junto do meu companheiro de vida, de história, de batalha e de amor e nos mudamos para o litoral. Ali, encontramos morada numa simpática casinha, próxima ao mar, erguida por um casal que faz parte de mim, com muito amor, repleta de energia, cheia de vida e de histórias.

Nesta casa, tenho a proteção daquele que fez parte de momentos mágicos da minha vida e que, hoje, me guarda lá de cima. Agora, eu e meu companheiro escrevemos uma nova história, simples assim.

Aqui, meus amigos, tentarei passar a magia de uma vida diferente: perto do mar, das estrelas, dos vizinhos, dos animais, sim, muitos animais. E quem sabe, onde quer que você esteja, também consiga ter uma nova visão daquilo que vive. Simplificar as coisas é um bom caminho para a felicidade.

Mas não se espantem quando lerem momentos típicos de cidade grande, afinal, foram 24 anos vividos na loucura deliciosa de São Paulo. Além do mais, ainda não vivo dos meus próprios tomates. Portanto, tenho que trabalhar como todo o mundo e lutar pelo meu pão, que um dia há de ser integral - sem ser sem graça - e feito por mim, se os ingredientes permitirem.

Leiam, releiam, comentem e aproveitem das simples histórias que serão contadas aqui de segunda a sexta-feira, porque o final de semana é dedicado ao sol, ao mar e aos bichos. E não se espatem com a quantidade de gatos, eles aparecem aos montes em minha vida. E isso é fascinante!