
Eu gostaria de entender o porquê das pessoas cismarem de que praia só é boa no calor. Não sei se pela minha facilidade em amar a praia em qualquer época do ano eu tenho uma enorme dificuldade em compreender o inverso.
Desde menina estou acostumada a freqüentar o mesmo lugar para o qual me mudei, há quase dois anos, nos meses de calor e frio. E olha que aqui faz frio de verdade no inverno. E chove, chove muito.
Mas eu aprendi a beleza disso tudo. Cada qual ao seu modo.
No calor a gente se estatela no sol, se lambuza de protetor, exibe a última moda em biquíni, experimenta todas as caipirinhas e batidas, se embebeda de água de coco e empanturra-se de açaí na tigela e sorvete.
Quando o frio bate na porta é hora de pegar aquela manta que espera o ano inteiro para ir à praia. Isso mesmo. A gente se enrola e fica olhando o luar, ao pé de uma fogueira, com a caneca de vinho quente na mão (ok, essa parte só foi possível ser incluídas depois que fizemos alguns aniversários).
E quando a chuva cai é hora de se embrulhar nas cobertas, convidar os amigos para assistir a um filme, jogar algum jogo bizarro inventado por nós e sentir o cheiro da terra molhada e das plantas perfumadas ao som da conversa da galera.
Isso tudo se fazia lá atrás, quando era menina e passava as férias por estas bandas em janeiro, julho e nos feriados prolongados. Os amigos todos cumpriam o mesmo ritual. Hoje, todos cresceram, cada qual tem sua responsabilidade, mas todos – sem exceção – ainda amam e freqüentam o mesmo lugar de outrora, cada qual no seu tempo disponível.
Eu, que era a pessoa mais reclusa daquela época (sim, poucos gostavam de mim e eu gostava de pouco – só dos melhores, claro! rs), confesso, via tudo de longe e imaginava fazer tudo isso com a turma. Mas nunca fui infeliz por isso. Pelo contrário, essa era minha marca registrada e assim fiz amizades de verdade, que guardo no peito até hoje.
Aliás, a praia já não tem sido a mesma desde setembro do ano passado, quando uma amiga querida e fundamental deixou nosso paraíso para trabalhar do outro lado do Atlântico. Os dias de sol, frio e chuva têm sido tristes como nunca foram.
P.S.: Após o fechamento desta edição eu soube que ela não volta na época das flores, mas o final ficou tão poético que não quis mudar.
P.P.S: Para os que querem saber, a Luana está trilhando um caminho profissional que ela merece, cheio de sucesso e conquistas e por isso eu apóio toda e qualquer decisão da minha amiga. A saudade é terrível, mas a gente entende.
P.P.P.S.: Mas ela não vai ficar sem dar o ar da graça muito tempo. Só que eu não vou estragar a surpresa da data, né?!