quinta-feira, setembro 20, 2007

Por um triz

Eu quase abandonei a faculdade de jornalismo ao final do primeiro ano. E, na verdade, só continuei o curso porque meu lado esquerdo do cérebro tomou partido.

Lembrei disso esta manhã, enquanto tomava café e ouvia a rádio local. Estavam falando sobre o grupo de teatro da cidade e logo disparei a frase para o meu marido: “Sabia que quase sai da faculdade para fazer teatro?”

Ele, que tomava seu café preto calmamente, só conseguiu olhar com espanto e dizer: “Ah é?”. Pois é, sempre fui um ser meio aparecido, daquele que quer estar em todas as fotos, fazer as melhores poses, ser o mais reconhecido. Desde pequena eu queria ser modelo; mas a altura não permitiu. Tentei a fotografia ao invés das passarelas, mas meus pais não tinham paciência para estas coisas.

Comecei cedo a dançar. Fiz balé e Ginástica Rítmica e estar no palco era o que eu mais amava. Participar dos campeonatos de GR também era fenomenal. Eu unia tudo o que mais amava: dançar, expressar e aparecer. Vai dizer que não é o máximo todos te olhando receber uma medalha, pela qual lutou tanto?

Enfim, eu tinha descoberto minha vocação. Na hora do vestibular não havia mais dúvidas – embora para chegar até a decisão eu tenha percorrido longos dias decidindo se fazia arquitetura ou física – e a escolha era certa: Educação Física. Eu seria uma excepcional técnica de GR.

Selecionei apenas as faculdades que possuíam a modalidade como matéria obrigatória e fui em frente. Passei em todas. Na hora da matrícula, recuei. Eu teria aula de anatomia, com peças de seres humanos. Por peças entenda membros, pois só quem faz medicina pode estudar o cadáver inteiro.

Não sei o que é pior: ter um morto estirado numa mesa e abri-lo ou ter que estudar ora o braço, ora a perna. Para mim era demais. Mesmo assim eu tentei. Fui visitar os laboratórios e quase morri do coração. Era demais para mim.

Uma das faculdades dava a chance do aprovado reoptar por outro curso. Pensei na tal arquitetura, mas eu estaria em defasagem, porque não tinha nota da prova específica. A vida inteira meus professores falaram que eu levava jeito para a escrita. Então, segui o palpite dos mestres e fui fazer Jornalismo.

Ao final do primeiro ano surtei. Eu queria ser famosa. Cheguei a procurar por cursos de teatro profissionalizantes, de uma galera tarimbada pela Globo. Mas como assim eu não teria um diploma? O lado caretinha falou mais alto e eu continuei o curso.

Ainda bem! Descobri que eu amo escrever, que posso viver das minhas próprias frases, do encontro das minhas palavras. E hoje vivo assim: a escrever pequenas e singelas histórias, debaixo do coqueiro, olhando o mar.

Mas confesso: ainda carrego a frustração de uma aula de anatomia ter sido a pedra no caminho da minha amada e idealizada vocação - a Ginástica Rítmica.


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